Alvaro García de Zúñiga (1958-2014)

Realiza-se no próximo dia 31 de outubro de 2024 (9h30-19h00), no Anfiteatro III da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, o encontro «AGZ pequenas explosões: leitura mista e escrita composta» dedicado à obra de Alvaro García de Zúñiga (1958-2014), no ano em que se assinalam dez anos sobre a sua morte. Trata-se de uma organização do Centro de Literatura Portuguesa (CLP), através do MATLIT LAB – Laboratório de Humanidades, em parceria com a blablalab e a Fundação da Casa de Mateus, com o apoio da Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT) e da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra (FLUC). 

AGZ pequenas explosões: leitura mista e escrita composta

AGZ small explosions: reading mix and writing jam

Alvaro García de Zúñiga (1958-2014) é autor de uma obra multiforme e plurilingue que desafia a lei dos géneros. A sua força motriz advém de uma profunda entrega à processualidade da escrita como instrumento de investigação da matéria fonossemântica da linguagem. Esse mergulho no som-sentido carnal da palavra ocorre quer no espaço intralinguístico de uma mesma língua, quer no espaço interlinguístico entre línguas (espanhol, francês). Ao organizarem-se paronomasticamente, isto é, movidos por atractores sintáticos que geram sentidos a partir dos sons, os seus textos desvelam novas paisagens de pensamento e experiência literária. Nesses interstícios categoriais emerge um universo poético de improbabilidades que alarga o campo do dizível, do pensável e do sentível. Dito de outro modo: a sua obra expande a invenção do humano no interior da experiência íntima da linguagem, instanciando graficamente a sua loucura alucinatória.

Esta abertura ao movimento da escrita questiona de forma radical os nossos protocolos de leitura. Como ler os seus textos? Como ler a partir deles? Como responder à sua interpelação? Explorar os novos campos de sentido que deles emergem? Escutar todos os ecos que se aninham dentro das palavras? Evocar vocalmente as suas ressonâncias cognitivas e emocionais? Como escrever sobre os seus textos? Como escrever a partir deles? Alargar o campo concetual e de referência das línguas? Continuar o jogo intra e interlinguístico que nos propõem? Entregar toda a racionalidade enunciadora ao fluxo assistemático do enunciado? Dissolver a consciência subjetiva na recursividade labiríntica do desejo de dizer?

Estas são algumas das perguntas que motivam este encontro dedicado à obra de Alvaro García de Zúñiga, quando passam dez anos sobre a sua morte. O encontro AGZ pequenas explosões testa um conjunto de hipóteses de leitura e escrita segundo princípios colaborativos e contrapontísticos. Os participantes foram convidados a escrever sobre, a escrever com e a escrever a partir de segundo o seguinte procedimento: o primeiro autor responde à leitura de um texto de Alvaro García de Zúñiga, o segundo autor responde à leitura do primeiro autor. Através de operações entrelaçadas de escrileitura, testamos a radiação multidimensional dos seus textos e a sua potencialidade enunciativa. Deste modo, o sopro das pequenas explosões do livro, da língua, da escrita e da forma propaga-se ao texto dos intérpretes.

Manuel Portela