Ativismo linguístico e não binaridade no Brasil: uma questão de neutralidade?
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Neste seminário, discuto o fenômeno popularmente conhecido no Brasil como “linguagem neutra”, uma estratégia linguística proposta e disseminada por pessoas não-binárias cujo intuito é questionar a organização binária da ordem de gênero. Entretanto, o discurso do senso comum, da mídia, do campo político conservador e até mesmo de certas áreas da ciência linguística brasileira perpetuam caricaturas e estereótipos sobre este fenômeno (e sobre a comunidade a que é vinculado), pois partem da ideia errônea de que se trataria de uma tentativa estranha à língua de acrescentar um “terceiro gênero” gramatical no português brasileiro.
Este entendimento, em grande medida, se deve à invisibilização de pessoas não-binárias tanto do debate público quanto acadêmico. Com base em uma etnografia multissituada e um corpus composto por dados de redes sociais, trabalho de campo em um coletivo LGBTQ+ e entrevistas com pessoas não-binárias, argumento empiricamente que a “linguagem neutra” apresenta desafios muito mais ousados do que simplesmente adicionar novas formas no sistema linguístico.
Para tanto, a aula terá três partes distintas que se complementam. A primeira parte da aula se concentrará em definições e conceitos centrais para o debate sobre ativismo linguístico e inclusão pela linguagem. A segunda parte traça uma breve genealogia de tentativas politizadas para fazer com que o sistema linguístico seja mais inclusivo. Na terceira e última parte, pretende-se, com dados empíricos de pesquisas sobre fenômenos aparentados em inglês, espanhol e português brasileiro, dissipar desentendimentos sobre a “linguagem neutra” e a não-binaridade de gênero, comumente utilizados pelo campo conservador para provocar pânicos morais na população sobre uma pretensa destruição da família e da nação.
Esta atividade decorre no âmbito do Seminário Género, Linguagem e Comunicação do Programa de Doutoramento em Estudos Feministas.
Nota biográfica
Rodrigo Borba é professor do Programa Interdisciplinar de Pós-Graduação em Linguística Aplicada e do Departamento de Letras Anglo-Germânicas da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Foi pesquisador visitante da King’s College Londres, Universidade de Birmingham e Universidade de Oxford. Suas pesquisas investigam as relações entre linguagem, gênero e sexualidade em diversos contextos aplicados. Tem dezenas de publicações nacionais e internacionais. Dentre elas, destacam-se os livros O (Des)aprendizado de si: transexualidades, interação e cuidado em saúde (Fiocruz 2016) e Discursos transviados: por uma linguística queer (Cortez 2020). É editor do periódico Gender and Language.
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Esta atividade realiza-se através da plataforma Zoom, sem inscrição obrigatória. No entanto, está limitada ao número de vagas disponíveis > https://zoom.us/j/87043091159 | ID: 870 4309 1159 | Senha: 117645
Agradecemos que todas/os as/os participantes mantenham o microfone silenciado até ao momento do debate. A/O anfitriã/ão da sessão reserva-se o direito de expulsão da/o participante que não respeite as normas da sala.
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