Coleção Cibertextualidades, Volume 5 | Materialidades da Literatura

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Acaba de ser publicado o Volume 5 da coleção “Cibertextualidades”: Manuel Portela, Rui Torres, Teresa Albuquerque e José Luís Ferreira, orgs. (2025), A.G.Z. pequenas explosões: leitura mista e escrita composta, Porto: Publicações Fundação Fernando Pessoa. ISBN 978-989-643-193-8. ISSN: 1646-4435. O livro circula gratuitamente como eBook, depositado no Repositório Institucional da UFP: http://hdl.handle.net/10284/14385
Este volume reúne os resultados da experiência de escrita e leitura coletiva a partir da obra de Alvaro García de Zúñiga (1958-2014) apresentada originalmente a 31 de outubro de 2024 na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra. A obra está dividida em seis secções: «Antes da explosão», com textos de Teresa Albuquerque, José Luís Ferreira e Pedro Braga Falcão; «Explodir o livro», com textos de Alvaro García de Zúñiga, Rui Silva e Ana Sabino; «Explodir a língua», com textos de Alvaro García de Zúñiga, Diogo Marques e Ana Marques; «Explodir a escrita», com textos de Alvaro García de Zúñiga, Patrícia Reina e Bruno Ministro; «Explodir a forma», com textos de Alvaro García de Zúñiga, Rui Torres e Sandra Guerreiro Dias; e «A.G.Z. mix & jam», com textos de Alvaro García de Zúñiga, em tradução e montagem de Manuel Portela.
O procedimento criativo que deu origem a este jogo com a obra de A.G.Z. é descrito deste modo na introdução:
Leitura mista e escrita composta propõe exercícios de criação de sentido distintos das práticas interpretativas dominantes, que consistem geralmente em ler sobre os textos para escrever sobre os textos. Dessa prática analítica e hermenêutica – que designo como escrita sobre escrita – resulta quer a objetificação que distancia o texto interpretante do texto interpretado, quer a premissa de que a linguagem que interpreta o texto não se confunde com a linguagem do texto. As suas naturezas seriam imiscíveis e a função da escrita sobre a escrita seria reforçar a identidade e as fronteiras que distinguem uma escrita de outra escrita. Este modelo de produção de sentido pressupõe que o exercício de análise e interpretação tem de ocorrer através de uma metalinguagem que reenquadra concetualmente o texto lido num quadro de referências e de relações desse texto consigo próprio e com outros textos.
No entanto, é possível pensar na relação entre leitura e escrita de outro modo. Por exemplo: o que acontece se lermos um texto como uma certa articulação de possibilidades de dizer e se imaginarmos que nessas possibilidades estão contidas outras possibilidades? Nesse caso, o texto não seria apenas a instanciação de uma unidade semântico-formal fechada em si mesma, mas antes uma ferramenta para explorar a dizibilidade que se instancia no próprio texto. Ora, o dispositivo “leitura mista e escrita composta” parte precisamente do pressuposto de que é possível escrever com em vez de escrever sobre. E não apenas da noção de que esse com significa escrever com um texto anterior. Parte também da ideia de que é possível escrever com outros escritores, isto é, a escrita pode ser desautonomizada da singularidade enunciativa individual. As duas noções parecem estar ligadas: se transformo um texto num instrumento ou num programa de escrita, é menos importante a singularidade das vozes que nele se instanciam do que a sua mistura dentro do campo de linguagem que se abre diante de leitores e escritores. A escrita pode ser experimentada como a continuação coletiva da potencialidade de um texto.
MP
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