da Misoginia Online aos Contextos das Resistências
Apresentação
Os acontecimentos em torno do jogo online da Baleia Azul que ocorreram em Portugal em 2017 mostraram como as redes sociais podem ter efeitos perversos sobre pessoas que se encontram vulneráveis. Os efeitos em causa – que atingiram em especial as raparigas – são, na verdade, parte de uma estrutura mais ampla que coloca em jogo relações de desigualdade de um modo muito particular e que tem como um dos seus nós centrais características distópicas da arquitetura da Net que proporcionam a preservação de um certo grau de anonimato, a possibilidade de transcender as nossas limitações físicas da identidade, a ausência de civilidade, a desinibição ou mesmo a publicitação da intimidade.
Dadas estas características, a Net facilita, com efeito, a ligação entre misoginia e uma cultura neoliberal de performance hipersexualizada da feminilidade que atravessa em particular as redes sociais, cuja expressão mais imediata e mais tratada é a circulação de pornografia, mas que pode assumir muitas outras formas com profundo impacto negativo sobre as mulheres.
Na verdade, se as características potencialmente libertadoras destas novas formas mediáticas permitem, por exemplo, a ligação em rede de grupos emancipadores, também facilitam ligação de sujeitos e grupos opressores que, como no mundo offline, são predadores oportunistas. O mesmo acontece com as novas capacidades de expressão mediática – se fotos e textos escritos colocados nas plataformas online por mulheres, por exemplo, podem servir novas e velhas formas de sociabilidade, as reações que lhes surgem podem não ser apenas expressões de admiração e elogios, podem também constituir expressões de carácter brutal e insultuoso, frequentemente anónimos. As intimidades podem assim ser transformadas em objetos de curiosidade de uma audiência invisível, podendo gerar comportamentos de ‘stalking’, ou ‘voyeurismo’. Com efeito, um dos problemas específicos à Net e às suas plataformas online diz respeito à proliferação de ‘internet trolls’, indivíduos que se escondem por detrás de um nome de utilizador anónimo, com a intenção de provocar perturbação mediante táticas de deceção e manipulação. Qualquer mulher que ouse exprimir opiniões online pode ser alvo de assédio abusivo, pois o objetivo último do ‘gendertrolling’ é o de silenciar as vozes e controlar o comportamento das mulheres. Alguns exemplos deste tipo de trolling consistem em insultos sexualizados, ameaças de violação, divulgação e circulação indevida de fotografias e vídeos que violam a privacidade e ameaças de morte. Embora se argumente frequentemente que a misoginia é trivial por não afetar a vida real, offline, da mulher, a omnipresença e ubiquidade da Net na atualidade deita por terra esse argumento, pois as mulheres utilizam a Net diariamente como ferramenta de trabalho e lazer.
A economia visual e comunicacional contemporânea faz com que os estudos de género sejam obrigados a refletir sobre todas estas questões que constituem, afinal, novas formas de violência contra as mulheres e tentativas de as silenciar.
Nesta atividade propomo-nos realizar um debate centrado nos usos e nas dimensões normativas da Rede numa perspetiva feminista.
A iniciativa teria a duração de um dia, durante o qual se dinamizaria uma conferência inicial, duas mesas redondas e um workshop findo o qual se apresentariam as conclusões do encontro.
Objetivos – Promover o diálogo com vista ao intercâmbio de conhecimentos entre a investigação académica e profissional numa área crítica da violência de género (os media digitais).
Público-alvo – comunidade científica de EMGF, estudantes de ciências sociais e ciências da comunicação, jovens investigadoras e investigadores em Estudos sobre as Mulheres, de Género e Feministas que trabalhem – ou tenham interesse – nesta temática e profissionais ligados às questões do digital numa perspetiva de género.
Inscrições
Sócias da APEM e Investigadoras/es do CES: €25 euros
Outras/os: € 35 euros
Estudantes e Desempregadas/os: € 5 euros
Materiais a disponibilizar: ebook com os textos das comunicações.
Comissão Organizadora
Cláudia Álvares (Universidade Lusófona/APEM)
Maria João Silveirinha (Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra/APEM)
Virgínia Ferreira (Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra/APEM/CES)
Comissão Científica
Cláudia Álvares (Universidade Lusófona/APEM)
Cristina C. Vieira (Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade de Coimbra/APEM)
Lina Coelho (Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra/APEM/CES)
Maria João Silveirinha (Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra/APEM)
Sara Isabel Magalhães (Centro de Psicologia da Universidade do Porto/APEM)
Virgínia Ferreira (Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra/APEM/CES)