Atualmente, a sensação de que o tempo passa cada vez mais rápido é experimentada por uma grande parcela da população mundial. Diante de um número crescente de afazeres provenientes do mundo do trabalho ou da vida pessoal, diferentes dimensões do cotidiano parecem se acelerar um dia após o outro. Essa sensação não é vivida apenas no âmbito de nossas relações econômicas e sociais, ela também atravessa as relações do mundo da política e da cultura, fazendo com que as exceções a essa temporalidade dominante sejam cada vez mais raras.
Diante de tal estado de coisas, nossa capacidade de elaborar racionalmente a sucessão de acontecimentos, encadeando-os em nexos causais mais ou menos definidos, vai se tornando cada vez mais difícil. Como parte integrante desse cenário, a abundância de informação, que poucos séculos atrás estava atrelada às condições de um saber empírico, atingiu um patamar inédito nas últimas décadas. Cada vez mais nos vemos obrigados a interpretar uma crescente avalanche de fenômenos em intervalos mais curtos de tempo a partir de informações que rapidamente se tornam “obsoletas” na medida em que perdem sua atualidade. Nesse círculo vicioso, uma espécie de sensação de instabilidade do tempo se estabiliza.
Causa e efeito desse contexto, nossas redes de comunicação guardam profundas relações com essa forma de experimentar o tempo. De certo modo, a incessante busca por uma atualização de informações a respeito de eventos que ocorrem no mundo aprofunda a sensação de que o presente é um intervalo ínfimo de tempo, e que o passado – inclusive o recente – não tem serventia para a compreensão de nossas vidas ou para o planejamento do futuro.
O que receber uma demanda de trabalho após o expediente, se impressionar com os efeitos de um terremoto na Índia durante o jantar e ser notificado sobre uma fatura em atraso poucos minutos antes de dormir têm em comum? Todas elas apontam para o efeito corrosivo que as tecnologias de comunicação têm sobre certas fronteiras temporais. Cada vez menos os períodos de um dia são reservados a apenas um âmbito particular, bem definido, da vida de um sujeito. Tempos do trabalho, do lazer e das notícias se interpenetram com mais frequência.
Embora o esforço historiográfico para compreender distintas formas de experimentar o tempo não constitua uma novidade, o que uma história das comunicações poderia acrescentar a este campo de estudos? Esta é a pergunta que norteou minha pesquisa de mestrado, recentemente defendida no Programa de Pós-Graduação em História Social da Universidade de São Paulo. A formação dos correios luso-americanos, na passagem do século XVIII para o XIX, é tomada como um ponto de partida para examinar as relações entre uma rede de comunicação e experiências sociais do tempo e do espaço. Com a criação de um sistema regular de troca de mensagens, os serviços postais alteraram certas dimensões do universo informacional dos contemporâneos e chegaram a encurtar as distâncias e acelerar o tempo. Com o objetivo de contribuir para um importante campo de estudos, a investigação oferece ferramentas para cartografar uma experiência temporal que se constitui no espaço. Convido os/as interessados/as a conhecerem a obra Topologias do tempo: a formação da rede dos correios no Brasil (1796-1829).
Créditos da imagem: Independência ou morte, Pedro Américo de Figueiredo e Mello (1888), Museu do Ipiranga.
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