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Rapidinhas

Publicado em: Rapidinhas

O cara que me atendeu na padaria ao telefone quando eu fui encomendar um PF para meu almoço me chamou de doutor o tempo todo. Eu fiz que não ouvi, mas fiquei pensando: devia ter dito pra ele não me chamar de doutor. não por nada não. embora doutor mesmo eu seja, não era desse conceito que ele lançava mão. lançar mão é bem registro de fala (ou será de escrita?) de quem esteve na universidade. Enfim, essa cultura de chamar de doutor quem paga por serviços eu acho péssima.

Há dias venho observando uma família de pássaros que parece tem ninho na árvore em frente de casa, na calçada do outro lado da rua. Digo família porque há vários pequenos e dois grandinhos. Eles voam rápido, cantam muito. Estão sempre juntos. Vão da árvore onde penso tem o ninho para as minhas desse lado da calçada e para a árvore do sobrado da ponta esquerda. Às vezes, pousam brincando e cantando no fio do poste bem em frente à minha janela do quarto. Pelo que andei pesquisando são sanhaçus-de-encontro-azul. Eles me renderam uns dois vídeos onde mais se dá pra os ouvir do que os ver. E me deram um poema ontem.

O cara que entregou meu almoço hoje não me chamou de doutor. Me chamou de senhor. Achei melhor. Eu pedi comida na padaria porque estava sem pão em casa, sem queijo. Daí, aproveitei a entrega para pedir essas coisas. Herança logística de minha mãe.

O sanhaçu-de-encontro-azul é também chamado de dançarino com asa azul escura. É um tipo de tangará. E tem no nome tupi e grego. Do tupi tangará. Do grego kuanos. Isso segundo o site Wikiaves, que tem inclusive áudios do canto desse pássaro. Curioso é que num dos áudios se ouve também o canto do sabiá-laranjeira, que por aqui também há. Eles convivem mesmo.

Pedi pão porque hoje quero usar a máquina para fazer um bolo de fubá. Não pão. Dessa vez tenho até erva-doce para a receita do bolo. E tenho as quantidades certas de farinhas, para além do coco ralado fresco. Vou fazer a receita do manual da máquina de pão. Na primeira vez que fiz adaptei a receita com o que tinha e não tinha. A ideia é comer bolo de fubá com café à tarde, ouvindo a família de sanhaçu-de-encontro-azul cantar.

 

 

 


Créditos na imagem: Reprodução: Moldando Afeto. Bolo de fubá, 2014.

 

 

 

 

SOBRE O AUTOR

Eduardo Sinkevisque

Eduardo Sinkevisque é doutor em Letras: Literatura Brasileira (FFLCH/USP). É sócio-fundador da Sociedade Brasileira de Retórica. Publicou o e-book Mar dos Dias (Árvore Digital, 2018). Publicou o livro Tratado Político (1715) de Sebastião da Rocha Pita – Estudo Introdutório, transcrição, índices, notas e estabelecimento do texto por Eduardo Sinkevisque (EDUSP, 2014). Foi pesquisador Residente na Fundação Biblioteca Nacional, cuja pesquisa foi em diários. Eduardo publica textos em seu blog, o blogmenos (www.blogmenos.tumblr.com) e colabora em várias revistas acadêmicas e literárias. Trabalha em consultoria de texto e de pesquisa na área de Humanas. Para contactá-lo: instagram @dudasinke e email esinkevisque@hotmail.com.

Fonte: Rapidinhas
Feed: HH Magazine
Url: hhmagazine.com.br
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