tensões, desafios e alternativas sustentáveis – até 15 de abril de 2025

Organização: Andrés Spognardi, Ana Raquel Matos

Prazo para envio de artigos: 15 de abril de 2025

Palavras-chave: política alimentar; regime alimentar; segurança alimentar; sistemas agrícolas locais; transição sustentável.

O regime alimentar é uma ferramenta analítica utilizada para interpretar as dinâmicas económicas, políticas e de poder que moldam a produção, distribuição e consumo de alimentos à escala global. Inspirado na teoria gramsciana de hegemonia, um regime alimentar reflete uma configuração estável de coerção e consentimento entre atores com dotações de poder assimétricas. Essa configuração, no entanto, contém tensões internas que, ao longo do tempo, conduzem a crises e reestruturações, abrindo caminho para a sua eventual transformação.

Dominado por grandes corporações transnacionais, o regime alimentar atual caracteriza-se por uma crescente tensão entre a expansão de um sistema agrícola industrial global – social e ambientalmente insustentável – e os sistemas agrícolas locais e de pequena escala, representados por pequenos e médios agricultores endividados no Norte global e por redes de camponeses e pequenos agricultores no Sul global.

Este número da e-cadernos CES procura contribuições que explorem as múltiplas dimensões dessa tensão. Convidamos, em particular, propostas de artigos que analisem as implicações do papel hegemónico desempenhado pelas grandes corporações multinacionais, bem como os desafios e o potencial transformador dos sistemas agrícolas locais, posicionados no extremo oposto da contradição sistémica.

Aceitamos tanto abordagens empíricas, teóricas como de revisão provenientes de múltiplas disciplinas das ciências sociais, entre as quais a sociologia, a economia, a ciência política, o direito, a geografia, a antropologia e a saúde pública. Interessam-nos particularmente estudos interdisciplinares, assim como aqueles que incorporem a perspetiva de profissionais e atores envolvidos em organizações de advocacia e em iniciativas orientadas para superar as contradições do regime corporativo, promovendo a transição para um modelo mais sustentável ambientalmente e favorável aos sistemas agrícolas locais.

Acolhemos contribuições de qualquer escala geográfica e de qualquer contexto regional. Embora estejamos abertos a abordar uma vasta gama de temas, interessa-nos especialmente investigação que se foque nas seguintes dimensões:

• Ambientais: Os impactos do sistema alimentar nas alterações climáticas, no desperdício alimentar, na biodiversidade e na saúde dos ecossistemas; os efeitos dos fenómenos climáticos extremos na cadeia alimentar; e o papel da agroecologia e de outras alternativas sustentáveis na redução da pegada ecológica do regime corporativo.

• Sociais: A emergência e desenvolvimento de movimentos sociais em defesa de sistemas alimentares locais; as desigualdades económicas, de género e étnicas no acesso a alimentos adequados; a segurança alimentar em contextos de vulnerabilidade social; o potencial dos sistemas de produção agrícola local para oferecer alternativas económicas sustentáveis e resilientes, capazes de promover uma alimentação saudável e acessível face ao modelo dominante.

• Políticas: O papel das políticas públicas na regulação da produção e distribuição de alimentos, o impacto da legislação alimentar nas práticas corporativas e dos atores locais e a influência das organizações da sociedade civil no desenho de políticas para um sistema alimentar mais justo.

• Culturais: As transformações nos hábitos alimentares e práticas de consumo sob o regime corporativo, a resistência cultural através da preservação de tradições alimentares locais e as identidades associadas aos sistemas de produção alimentar local.

• Económicas: Os efeitos económicos do regime corporativo sobre os agricultores locais, especialmente em relação à concentração do mercado e às dinâmicas de dívida, e o potencial dos sistemas de produção agrícola local para oferecer alternativas económicas sustentáveis e resilientes face ao modelo dominante.

A e-cadernos CES é uma publicação online, com acesso livre, que se baseia num sistema de avaliação por pares e é editada pelo Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra (Portugal). Integra atualmente as seguintes bases de indexação: CAPES, DOAJ, EBSCO, ERIH Plus e Latindex. Para mais informações sobre a publicação consulte: https://journals.openedition.org/eces.

Todos os textos devem ser originais e submetidos na sua versão completa, em língua portuguesa, inglesa, francesa ou castelhana. Podem ter até 60 mil caracteres no máximo (com espaços), incluindo notas e referências bibliográficas. Para a secção final, @cetera, podem ser apresentados outros textos (até 35 mil caracteres), entrevistas e debates (até 25 mil caracteres) ou recensões críticas inéditas (máximo 5 mil caracteres). Os textos submetidos não podem corresponder, em todo ou em parte, a outro texto já publicado (em versão papel ou eletrónica) na língua em que se apresenta ou em qualquer outra língua nem estarem a ser propostos em simultâneo a qualquer outra publicação.

As normas detalhadas para submissão dos textos estão disponíveis em https://journals.openedition.org/eces/804. As mensagens devem ser enviadas para e-cadernos@ces.uc.pt e indicar explicitamente que se referem ao número temático em questão ― “Resistindo ao regime alimentar corporativo”.

Todos os contributos estarão sujeitos a um processo de arbitragem científica (double-blind peer review).