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Ensino da Literatura Digital – Teaching Digital Literature

Nos próximos dias 25 e 26 de julho de 2019, entre as 9h00 e as 18h00, decorrerá na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra o colóquio internacional “Ensino da Literatura Digital – Teaching Digital Literature“. Trata-se de uma iniciativa organizada pelo Programa de Doutoramento em Materialidades da Literatura, Centro de Literatura Portuguesa e Departamento de Línguas, Literaturas e Culturas da Universidade de Coimbra, sob a coordenação de Ana Maria Machado. A sessão inaugural conta com a presença de João Costa (Secretário de Estado da Educação), Teresa Calçada (Comissária do Plano Nacional de Leitura) e Carlos Reis (Coordenador do Centro de Literatura Portuguesa). As conferências de abertura e encerramento serão proferidas, respetivamente, por Roberto Simanowski (Universidade de Basileia) e Scott Rettberg (Universidade de Bergen). O colóquio inclui também, na manhã do dia 26 de julho, uma oficina dedicada ao uso do Arquivo LdoD em sala de aula: “Arquivo LdoD em Prática: dinâmicas digitais de leitura, edição e escrita do Livro do Desassossego“. O programa integral do colóquio está disponível nesta ligação.

No último quarto de século, a discrepância entre o volume da investigação em literatura eletrónica e a que diz respeito ao seu ensino tem sido superada pela emergência de algumas abordagens importantes para a sua lecionação, especialmente no campo das humanidades digitais, mas também na sua introdução na educação formal, da educação infantil e do ensino básico aos ensinos secundário e superior. A atual investigação sobre o ensino da literatura eletrónica consiste em trazer estas obras para a sala de aula e proporcionar experiências de leitura literária digital aos estudantes. No entanto, estas práticas têm ainda pouca expressão nos diferentes níveis de ensino, talvez porque os responsáveis são os denominados imigrantes digitais, e não os nativos e, por consequência, à exceção de algumas universidades, as escolas refletem escassamente os desafios educativos da literatura eletrónica.

Uma das razões invocadas para justificar a situação atual prende-se com a natureza híbrida e transdisciplinar da literatura eletrónica e com a consequente necessidade de juntar diferentes áreas de conhecimento para compreender a sua peculiaridade estética.

Com o estudo da literatura eletrónica não se pretende de forma alguma negar ou substituir a tradicional literatura impressa. Pelo contrário, esta área de estudos pretende abrir novos horizontes literários, através da leitura e utilização de outros tipos de texto, como, por exemplo, hipertexto, texto multimodal, texto não‑linear ou texto generativo, por forma a desenvolver as competências literárias dos estudantes, melhorando, em última análise, a competência de leitura literária em meio impresso. Com efeito, o potencial da literatura eletrónica é imenso, pois ela promove a criatividade, desenvolve a sensibilidade estética em ambiente digital, questiona a figura autoral, colocando os leitores e utilizadores numa situação mais dinâmica, participativa, interativa e imersiva.

Do ponto de vista da investigação, têm sido feitos esforços para expandir a análise e a terminologia dos estudos literários e para criar uma e-literacia, ou seja, uma forma de olhar que vá além do modelo da literacia impressa. Estes esforços responderam a algumas das questões levantadas pela migração do impresso para o digital, mais especificamente para preencher a lacuna de modelos críticos para a interpretação deste tipo de obras e de terminologia específica para analisar e ensinar literatura eletrónica. Assim, foi feito um trabalho considerável para perceber a figuração e o estranhamento perante um conjunto de elementos navegativos, interativos, visuais, sonoros e performativos na interação com o texto, no processo ergódico, proporcionado pela literatura eletrónica, que requer uma ação exploratória física por parte do seu destinatário. Além de exigir familiaridade com estas características, a literatura digital também levanta a questão de saber se professores e alunos deveriam ter conhecimentos de programação ou mesmo se é possível ensinar e compreender obras digitais, em profundidade, sem este conhecimento específico. Cumpre, pois, discutir questões como: deveria o contexto educativo atual aproveitar o currículo oculto dos nativos digitais, explorando criticamente as possibilidades criativas, lúdicas e estéticas proporcionadas pelos objetos digitais? Poderão professores, bibliotecários, mediadores de leitura ou outros agentes educativos e literários ignorar a literatura digital infantil e juvenil, dado que ela propicia a participação lúdica dos jovens leitores e expande as suas competências criativas, imaginativas e críticas? Quão relevantes são estes artefactos, bem como a suas dimensões estética e expressiva para o desenvolvimento de uma literacia digital crítica?

Fonte: Ensino da Literatura Digital – Teaching Digital Literature

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