«Moçambique com Z de Zarolho» de Manuel Mutimucuio
Apresentação a cargo de Maria Paula Meneses (CES)
Sobre o livro:
(…) «´´Moçambique com z de zarolho é uma história sobre como, em determinadas ocasiões, a cultura é algo fundamentalmente político, daí o futuro das personagens ser calculado a partir da língua – na qualidade de instrumento que garante apreensão, transformação e transmissão da própria cultura –, por deputados. Nesta ficção, temos duas entidades importantes no desenlace da história: Djassi, um deputado da Assembleia da República a representar homens bonitos, esses que têm poder e são, de vez em quando, vítima do mesmo, e Hohlo, um empregado doméstico a representar a classe dos desfavorecidos, sobretudo dos que buscam uma oportunidade de ascensão social na capital do país. Através destas duas figuras, ambas humildes na sua condição, Mutimucuio constrói e reconstrói um Moçambique possível, fora de um comodismo assente na herança colonial.
Na verdade, o autor, com um olhar e atrevimento sociológico muito ousado, coloca as suas personagens a discutir a necessidade de o país ou substituir a língua oficial ou adoptar uma outra, a inglesa, quer porque a portuguesa está decadente quer porque os próprios moçambicanos, na história – e na realidade também –, são absorvidos pelo maior património cultural da Inglaterra. Deste modo, Manuel Mutimucuio sintetiza o que vai no (sub)consciente dos moçambicanos, não importa se insipiente, brinca com isso e projecta uma direcção, cuja finalidade, de longe, continuará a prejudicar a maioria, os miseráveis ou, se quisermos, as massas. Este é um livro que, ao questionar o status quo, com efeito, mostra-nos que há circunstâncias inalteráveis: a condição dos humilhados. Nisso, o escritor aposta numa crueldade suficiente para tornar Hohlo aquilo que, se calhar, o leitor não deseja, mesmo sendo relevante para os desequilíbrios emocionais gerados pelo enredo.
Moçambique com z de zarolho ajuda-nos a identificar as transformações de ordem social no nosso plano existencial. Paralelamente a isso, dá-nos o rumo para o qual o país caminha e a que ritmo.» [José Remédios, Jornal O País > texto completo AQUI]