Novos títulos da colecção Estudos de Literatura Comparada
O murmúrio das imagens I. Poéticas de Evidência – Joana Matos Frias
A indefinição semântica que a palavra portuguesa «imagem» agencia quando equacionada verbalmente é tão remota quanto a própria associação de Poesia e Imagem, estabelecida na Antiguidade, pois o complicado posicionamento da visão entre as esferas do Sensível e do Inteligível impediu que por longos séculos na cultura ocidental se distinguissem os meios de construção de um analogon do discurso com o referente face aos meios de criação de um analogon dentro do próprio discurso. Este estudo visa apresentar uma ponderada reconstituição teórica desse complexo vínculo entre Poesia e Imagem, com as tensões históricas e as contradições tipológicas que tal relação sempre suscitou: trata-se assim de uma abordagem na qual necessariamente se cruzam os domínios elementares da Retórica, da Poética e da Estética, com vista a uma reflexão transdisciplinar que não se escusa mesmo a uma certa indisciplinaridade.
O murmúrio das imagens II. Modos de ver (em) Ruy Cinatti – Joana Matos Frias
No panorama multifacetado da poesia portuguesa do século XX, a obra de Ruy Cinatti representa uma súmula muito invulgar de todas as faces da ligação ancestral entre Poesia e Imagem: nela, a evidência vai das coisas às palavras, ou do mundo à linguagem, em consonância com um princípio fenomenológico, mas vai também das palavras às coisas, de acordo com um princípio poético, das palavras às palavras, obedecendo a um princípio retórico, e das palavras às imagens (ou destas àquelas), graças a um princípio intermedial. A imagem falante de Ruy Cinatti é assim mimese ou efeito de real, mas é também imagem autónoma, que dá a ver, já não o visível, mas o apenas visualizável. E é esta paridade que lhe permite ser fiel, simultaneamente, ao mundo e à poesia, observando assim uma responsabilidade ética sem prejuízo da finalidade estética essencial da obra.
De passagem: artistas de língua alemã no exílio português – Teresa Martins de Oliveira e Maria Antónia Gaspar Teixeira
Nos últimos anos e na esteira dos Estudos de Memória, que remontam já aos anos 80, tem-se verificado um interesse acrescido por textos da memória cultural, com especial enfoque em documentos sobre o eu. Com esta abordagem memoria- lista se cruzam as perspetivas multi, inter e transdisciplinares, privilegiando a importância a conferir a experiências de fronteira (políticas, territoriais, linguísticas e estéticas) que a vivência exílica e as suas manifestações artísticas representam. De facto, um olhar sobre os espaços “entre” trouxe um outro interesse à questão das rotas do exílio enquanto espaço de experiência cultural, que se têm tornado (também elas) alvo de novas investigações críticas e de correspondentes alargamentos semânticos.
Portugal como rota de exílio ganhou, assim, um novo significado que esteve na origem dos textos que este volume congrega. Com ele se pretende dar visibilidade a artistas de língua alemã que viveram o seu exílio em Portugal ou que por aqui passaram – alguns caídos no esquecimento – e um novo enfoque às suas obras, revisitando ou (re)descobrindo não apenas textos literários, mas também outras formas artísticas.
Fonte: Novos títulos da colecção Estudos de Literatura Comparada