Quem quer ser uma boa menina? A moralidade subentendida no resgate religioso de trabalhadoras do sexo em Portugal
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Moderadora: Rita Alcaire (CES)
Apresentação
Certos discursos conservadores têm ganhado expressão ao ancorarem-se no que denominam ideologia de género, uma suposta conspiração para colocar em causa os valores da família tradicional e incutir a normalização de identidades ou orientações sexuais que esses grupos consideram não-naturais ou ilegítimas. Carregados de fake news e distorções de teorias e estudos consolidados, especialmente dentro dos estudos queer e do feminismo, estes discursos conservadores são particularmente visíveis na escola, defendendo o direito dos pais de impedir que aí se abordem temas relacionados com a diversidade sexual e/ou de género segundo um alegado superior interesse da criança. Noutros campos, têm-se oposto a diversas pautas por direitos e reconhecimento, como é o caso das lutas pelo reconhecimento do trabalho sexual como trabalho.
As organizações de base religiosa têm sido muito bem-sucedidas na angariação de financiamento e na captação de interesse público e influência política, capitalizando discursos baseados em pânicos morais. Como consequência, sustentam imaginários moralistas sobre sexo e sexualidade, de que é exemplo a sobreposição de trabalho sexual com tráfico de pessoas, e ganham força associando-se a correntes feministas abolicionistas. Além disso, a interpretação das organizações de base religiosa e de seus líderes também desempenha um papel importante na agenda política e mediática. Esses discursos e modus operandi de “providenciar assistência” para profissionais do sexo têm um impacto considerável nos seus direitos humanos, como por exemplo no acesso à justiça, saúde, documentos legais, alojamento e respeito pela sua identidade de género.
Nesta conversa pretendemos abordar a moralidade religiosa como um eixo de interpretação do trabalho sexual e das trabalhadoras do sexo, e a partir disso, pensar as repercussões deste entendimento sobre a vida dessas mulheres. Pretende-se refletir como os discursos religiosos informam o trabalho de organizações de divulgação de base religiosa com profissionais do sexo, o cenário mediático e a agenda política em Portugal e, de modo mais abrangente, os entendimentos morais sobre o trabalho sexual.
Notas biográficas
Fernanda Belizário – Doutorada em Pós-colonialismos e Cidadania Global pelo Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra com uma tese sobre travestis brasileiras trabalhadoras do sexo migrantes na Europa, a partir de um olhar pós-colonial e queer. É investigadora integrada do centro de investigação RECI (Research Education and Community Intervention) do Instituto Piaget/APDES. É gestora de projetos a nível europeu na área de redução de riscos e Policy & Advocacy Officer na área da defesa dos direitos de pessoas que fazem trabalho sexual. É mestre em Comunicação e Consumo pela ESPM-SP e licenciada em Ciências Sociais e Comunicação, ambas pela Universidade de São Paulo. Seus interesses de pesquisa são os estudos de gênero, alargamentos teóricos dos estudos pós-coloniais e decoloniais e migrações.
Filipe Couto Gomes – Médico psiquiatra com prática clínica nas áreas de Psiquiatria Geral, Saúde Mental de grupos socialmente vulneráveis e Substâncias Psicoativas e Dependências.
Mestre em Medicina pela Universidade do Porto, com o tema “Acompanhamento Clínico na Transição de Género”. Pós-graduado em Sexologia (ISPA – Instituto Universitário) e Psiquiatria Social e Cultural (Faculdade de Medicina, Universidade de Coimbra).
Desempenhou atividade clínica e científica na Consulta de Sexologia Clínica do Centro Hospitalar Psiquiátrico de Lisboa por cinco anos. Fez parte de Unidade de Internamento Psiquiátrico dirigida a jovens entre os 16 e os 25 anos, durante dois anos.
Envolveu-se em projetos de literacia em Saúde Mental, moderando sessões dirigidas a pessoas com Doença Bipolar e participando na criação de um grupo de esclarecimento sobre diversidade de género dirigido a familiares. Cruzando as disciplinas da Sexologia e da Adictologia, é parte de um projeto de acompanhamento clínico dirigido quer a quem faz chemsex, quer ao uso de substâncias psicoativas e dependências por pessoas que de algum modo desobedecem à normatividade sexual.
Ao longo do seu percurso profissional, vem trabalhando juntamente com organizações de base comunitária em intervenções de Saúde Mental ajustadas a grupos socialmente vulneráveis, nomeadamente às pessoas que vivem com VIH, que exercem sexo comercial, que usam substâncias psicoativas, em processo migratório ou que se identificam como LGBT.
Maria – Trabalhadora do Sexo e ativista pelos direitos de pessoas que fazem trabalho sexual
Moderadora
Rita Alcaire – Investigadora em Pós-Doutoramento (Núcleo de Democracia, Cidadania e Direito) do CES. Bolseira de Investigação da equipa portuguesa de CILIA LGBTQI+ Desigualdades ao longo da vida de pessoas LGBTQI+: uma abordagem comparativa e interseccional em quatro países europeus, financiada pela FCT (via NORFACE). É doutorada em Direitos Humanos nas Sociedades Contemporâneas (CES/III) com a tese ‘A Revolução Assexual: discutindo direitos humanos pela lente da assexualidade em Portugal’, que analisa as narrativas sobre assexualidade por profissionais de saúde, media e pessoas assexuais, com o propósito de desafiar e repensar a noção de direitos humanos. Cocoordenadora do Mestrado em Psiquiatria Social e Cultural (FMUC), tem desenvolvido atividades de outreach e advocacy nesta área de especialização. Integra a organização do ciclo de formação avançada Publicar sem Perecer – Sobreviver ao Turbilhão e do Ciclo de Conversas e Debates SHARP Talks, no CES. Os seus interesses de pesquisa centram-se no estudo do género e sexualidades, saúde mental e pop culture, usando diferentes media como uma maneira privilegiada de os abordar. Publicações mais significativas incluem os capítulos ‘Asexuality as an Epistemological Lens: An Evolving Multi-Layered Approach’ (SAGE, 2020), ‘Desautorizando a psiquiatria: ativismos, políticas de saúde e a saúde como um ato político’ (IUC, 2020) e ‘A comunidade assexual discute sua luta pela aceitação’ (EDUEL, 2019).
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Esta atividade realiza-se através da plataforma Zoom, sem inscrição obrigatória. No entanto, está limitada ao número de vagas disponíveis.
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As atividades abertas dinamizadas em formato digital, como esta, não conferem declaração de participação uma vez que tal documento apenas será facultado em eventos que prevejam registo prévio e acesso controlado.
Feed: Centro de estudos Sociais – Eventos
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