Requiem por Notre-Dame | a.muse.arte
Notre Dame está a arder.
Hoje, a notícia atinge-nos com a violência de uma tragédia. Com espanto e horror, vemos as imagens do fogo que avança pela cobertura, vemos o pináculo a cair…
Notre Dame é o lugar que nos habituámos a sentir como nosso. É um lugar matricial para a nossa cultura, para a história da espiritualidade e da arte, símbolo de uma época, mas que atravessa várias épocas, ponto fulcral da cultura ocidental onde se cruzam vários episódios da história e da literatura, lugar onde (também) se constrói a nossa identidade. O sentido de pertença é aquilo que protege o património, mas é também aquilo que é ferido de morte quando o património se perde.
É uma tragédia que nos atinge porque com o fogo que a destrói é um bocado de nós, da nossa história, mas também do nosso presente, que se esfuma. Estamos de luto, num imenso lamento. Como em todas as mortes, há tanto de irreparável nesta perda!
“Cathédrales de brume aux arches fantastiques ;
Montagnes de vapeurs, colonnades, portiques,
Par la glace de l’eau doublés,
La brise qui s’en joue et déchire leurs franges,
Imprime, en les roulant, mille formes étranges
Aux nuages échevelés.”
Théophile Gautier (1811-1872).
“Notre-Dame”, in La comédie de la mort (1838).